segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Reportagem do site Autoshow


Meu nome é Gurgel

A maioria dos brasileiros sabe quem foi Che Guevara, mas não sabe quem foi Zumbi dos Palmares. A maioria dos brasileiros sabe quem foi William C Durant, criador da General Motors, mas não sabe quem foi João Augusto Conrado do Amaral Gurgel. A partir desse pensamento que o jornalista Lélis Caldeira resolveu escrever um livro sobre a história do criador do Gurgel, o querido e genuinamente carro brasileiro. E foi após sair de uma noitada num bar em Campinas e se deparar com BR 800 estacionado na frente do seu carro que ele pensou: “Eu preciso contar essa história”. O resultado pôde ser visto na última AutoShow Veículos Antigos e Especiais, quando o escritor lançou oficialmente o Gurgel, um brasileiro de fibra (Editora Alaúde).



“Não havia local mais apropriado para lançar o meu livro. Estou orgulhoso que o espaço foi aberto”, disse Caldeira. Ao lado da exposição de 25 modelos de Gurgel do Clube Guerreiro, Caldeira explicou para a reportagem a importância daquele que é em sua opinião “um dos brasileiros mais visionários que o país já teve”. Atualmente debilitado pelo alzheimer, pouco é dado importância à figura de Amaral Gurgel. Num país que tem um povo apaixonado por carros é um fato estranho não conhecer a figura que apostou numa indústria automobilística 100% nacional: “O Brasil optou ao longo de sua história por investir em rodovias e não ferrovias. O irônico disso tudo é que o senhor Gurgel foi o único que entendeu a importância para o país em ter uma indústria própria. O começo e o final da fábrica do Gurgel coincidem com fatores históricos do Brasil, mas pouca gente percebe isso”.

Como o próprio Gurgel ressalta na obra de Caldeira, “só mesmo no Brasil alguém que já produziu 40 mil veículos ainda é chamado de sonhador”. Sonhador ou não, alguns fatos ressaltam a importância dessa história, que duraram exatos 25 anos. Se hoje vemos alguns especialistas em carros comentarem sobre veículos elétricos, saiba que o senhor Gurgel concebeu o primeiro modelo no país na década de 70. “O EcoSport é um modelo inspirado no Carajás, que traz uma carroceria de jipe, mas não é propriamente um jipe”, explica Caldeira.



Segundo o autor, o Brasil perde muito com a falta de conhecimento sobre essa personagem, uma espécie de “Dom Quixote”. O leitor que tiver em mãos o livro poderá perceber que Caldeira tem razão e motivos de sobra para ter produzido o livro. De uma personalidade forte, Gurgel era figura controversa, que era reverenciado por muitos e criticada por tantos outros. “Era uma pessoa que deixava clara a sua opinião sobre os caminhos para o progresso do país e isso incomodava muita gente. Aliás quem se incomodava, era porque sabia da capacidade empreendedora dele”, ressalta.



Dono de um BR 800, que custa no mercado R$ 3, 5 mil, Caldeira não se desfaz do seu querido veículo por nada: “É um carro adaptado para o trânsito das grandes cidades. Também é econômico (faz 18 km com um litro) e tem uma mecânica que dificilmente dá problemas”. O prefácio do livro traz um resumo para o leitor: “Gurgel sonhou, criou, produziu, empregou, vendeu, exportou e revolucionou. Gênio ou visionário?”.


Nenhum comentário: