segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Cientistas brasileiros aumentam potencial energético da cana-de-açúcar

Daqui a dez anos, a cana-de-açúcar poderá ser muito diferente, mais resistente à seca e menos dependente de fertilizantes e defensivos. A planta terá propriedades específicas para favorecer a obtenção de etanol.
No que depender dos projetos de melhoramento conduzidos pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), em cerca de dez anos, a planta terá de mudar seu nome para “cana-energia”.“Nosso objetivo maior é aumentar a produção de etanol e de biomassa com o menor impacto ambiental possível. E isso inclui o uso adequado da terra, da água e redução das emissões de poluentes”, disse Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da coordenação do BIOEN.
Nos dias 6 e 7 de novembro, durante o “Workshop BIOEN de Pesquisa”, Souza e outros pesquisadores que integram o programa apresentaram um panorama dos principais resultados alcançados nos últimos quatro anos. Desde 2008, quando o BIOEN foi criado, 89 auxílios à pesquisa foram conduzidos ou iniciados, favorecendo cerca de 300 cientistas brasileiros e colaboradores internacionais de 15 países.
Os estudos resultaram em quase 430 artigos publicados em revistas internacionais, além de 17 patentes e um software para auxiliar a compreensão do genoma da cana. Foto: Datinho1/Flickr
Segundo Souza, isso resultou em quase 430 artigos publicados em revistas internacionais, 53 teses de doutorado e 109 dissertações de mestrado defendidas, além de 17 patentes e um software que deverá facilitar a compreensão do complexo genoma da cana.
Atualmente, o programa conta com 83 projetos em andamento. Além dos esforços de melhoramento assistido por ferramentas moleculares, há grupos dedicados a encontrar microrganismos mais eficientes para fermentar a biomassa. Outros buscam a melhor forma de pré-tratar o bagaço e prepará-lo para a produção do etanol celulósico. Também há pesquisadores dedicados a diminuir os impactos ambientais e sociais da produção de biocombustíveis. Uma das divisões do BIOEN trabalha no desenvolvimento de motores flex mais eficientes.
Há ainda projetos que buscam a obtenção de biocombustíveis a partir de óleos vegetais e propõem usar os resíduos do processo para fabricar produtos químicos de alto valor agregado, como o glicerol.“O BIOEN tem um escopo amplo. Há expertise de muitas áreas diferentes tentando resolver os problemas da bioenergia”, disse Souza à Agência FAPESP. Segundo ela, a área de biotecnologia é uma das mais avançadas. “Temos os marcadores e a estatística genética. Toda a plataforma desenvolvida para achar e testar os genes está dando resultados”, disse.
Embora já seja possível criar a cana transgênica em laboratório, com mais sacarose ou menos lignina – material estrutural que envolve a celulose e dificulta sua fermentação –, ainda é preciso transformar essa planta em um cultivar que mantenha as características agronômicas desejadas pelo setor produtivo.
“É preciso avaliar tudo de novo, para ver se os genes modificados não vão alterar características desejáveis da planta ou diminuir a resistência a pragas, por exemplo. São projetos de médio e longo prazo, pois, antes do BIOEN, não existiam ferramentas biotecnológicas para o melhoramento da cana”, disse Souza.
Karina Toledo, da Agência FAPESP.

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