Combustível. Com dólar desvalorizado e os custos de produção mais baixos já registrados nos últimos anos, produtores americanos de etanol de milho ampliam as vendas para o mercado externo e já exportam o produto até mesmo para o Brasil
O Brasil já tem sua tradicional posição de maior exportador de etanol do mundo seriamente ameaçada. O País foi superado no final do primeiro semestre pelos Estados Unidos em vendas e analistas já apontam que a produção americana está cada vez mais competitiva e pronta para disputar o mercado internacional com o Brasil. O dólar desvalorizado e amplos investimentos começam a dar resultado nos EUA.
Os cenários para os próximos anos serão debatidos a partir de hoje no Congresso Mundial do Etanol, maior evento da indústria e que reunirá em Genebra alguns dos principais atores do setor. No Brasil, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) já deu sinais de que poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para garantir a exportação de etanol para os Estados Unidos e Europa. O temor é de que regras para importação de biocombustíveis nesses países possam afetar a competitividade do etanol brasileiro.
A estimativa dos organizadores do evento é de que a produção de etanol cresça até 12% em 2010, depois de dois anos de crise profunda. Mas a grande novidade deste ano, para os analistas, é a posição dos Estados Unidos que, em apenas cinco meses, já haviam exportado o mesmo volume que venderam em todo o ano de 2009. Até setembro, as vendas haviam chegado a mais de 700 milhões de litros para o exterior. O país já era o maior produtor de etanol. Mas consumia grande parte da produção.
Em fevereiro, os americanos deram os primeiros sinais de que poderiam se tornar líder no setor. Naquele mês, exportaram 151 milhões de litros do combustível, segundo dados da consultoria F.O. Licht"s. No mesmo mês, as vendas brasileiras ao exterior haviam caído para 120 milhões de litros.
O que parecia uma situação momentânea passou a se repetir nos meses seguintes, com os americanos chegando a exportar acima de 200 milhões de litros de etanol de milho por mês. Parte da expansão ocorreu graças a investimentos pesados. No final de 2006, capacidade produtora dos EUA era de 4,7 bilhões de galões por ano. Em 2009, o volume havia chegado a 13,8 bilhões de galões, o equivalente a 52,1 bilhões de litros.
Custo baixo. O custo de produção, segundo a consultoria, é também um dos mais baixos, depois de safra recorde de milho em 2007 e 2008. Há dois anos, o custo apenas com o milho para produzir um galão (3,78 litros) de etanol nos EUA era de US$ 1,29. De janeiro a maio, esse custo caiu para apenas US$ 0,87 por galão. O custo total de produção para um galão de etanol caiu de mais de US$ 2,00 em 2008 para apenas US$ 1,30 neste ano. O resultado foi uma maior competitividade nas exportações.
Para a F.O. Licht"s, outro fator pesou: a desvalorização do dólar. A tendência acabou ajudando os exportadores americanos a ganhar mercado. Hoje, 32% das exportações americanas vão para a Europa, contra 18% para Canadá e 15% para Japão. O Brasil é o sexto maior importador de etanol dos Estados Unidos, consumindo 5% de todo o volume vendido pelos americanos.
Mas a queda da produção de etanol no Brasil também contou para a nova posição americana no mercado mundial. Se em 2008 o Brasil exportava 4,8 bilhões de litros por ano, o volume caiu para 3,3 bilhões em 2009-2010 e, para 2010-2011, a estimativa é de que o volume não passe de 1,2 bilhão de litros.
O que mais preocupa é que se os americanos mantiverem a taxa de expansão e o Brasil se estagnar com 1,2 bilhão de litros, como tudo indica ser o caso até 2013, os americanos poderiam superar definitivamente a exportação nacional. (Estado de São Paulo)
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