sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Alta no dólar: saiba os reflexos na indústria


Se o aumento da moeda persistir, fabricantes terão de reduzir custos

té a explosão da crise financeira norte-americana, pode-se dizer que a indústria automobilística vivia o melhor período de sua história no Brasil. Além das vendas em alta, graças ao crédito em abundância, o real conseguiu uma boa valorização frente ao dólar e chegou a fechar alguns dias cotado a R$ 1,60/R$ 1,70. Com as vendas de automóveis em queda nos países desenvolvidos, as grandes montadoras viram aí uma boa oportunidade para desovar seus estoques: mandar o excedente para os mercados emergentes.
Sendo assim, o que observamos na última edição do Salão de São Paulo foi uma enxurrada de novos modelos que chegarão ao país em 2009. Porém, quando as fabricantes tomaram a decisão de importar esses veículos, o dólar ainda não tinha ultrapassado a barreira dos R$ 2, já em muito superada nos últimos dias.
A Volkswagen, por exemplo, surpreendeu em sua coletiva de imprensa ao anunciar que trará no próximo ano o utilitário esportivo Tiguan, o Passat CC e o conversível Eos. Além disso, a picape média Robust, que virá da Argentina, também está confirmada. Para saber qual é a "mágica" da montadora para trazer tantas novidades de fora em período tão incerto, o Carro Online conversou com Flavio Padovan, vice-presidente de vendas e marketing da fabricante alemã, que foi claro: “não muda em nada os planos da empresa, pois a volatilidade cambial tende a se acomodar com o tempo e não vemos necessidade nenhuma de alteração nos planos”. Em uma tentativa de chamar mais clientes para suas lojas, a Volkswagen iniciou na última quarta-feira (19) uma campanha promocional na qual venderá sua atual linha de importados com o dólar a R$ 1,57.
Barreira dos R$ 2,20
A sul-coreana Kia também não ficou atrás em termos de ousadia e revelou que pretende trazer toda sua linha de modelos ao Brasil. Portanto, no próximo ano, veremos nas concessionárias da marca o utilitário esportivo de luxo Mohave, o sedã Cerato e o inovador Soul. Seu representante no Brasil, que trabalhava com uma cotação de R$ 1,80 a R$ 1,90, informou que, caso a moeda se mantenha estável em uma cotação superior a R$ 2,20, será necessário reajustar ligeiramente o valor dos produtos. Por esse motivo, o hatch compacto Rio poderá ter a vinda ao Brasil descartada. Segundo declarou ao Carro Online o presidente da Kia Motors do Brasil, José Luiz Gandini, “a importação do Rio permanece em estudo porque o carro só será interessante se conseguirmos trazê-lo por um valor em torno de R$ 45 000”.
Corte de despesas para manter preços

Uma estratégia para driblar os efeitos do sobe-e-desce no câmbio que pode ser adotada por algumas indústrias do setor é a redução de custos, como explica Luiz Tambor, diretor de marketing da Land Rover. O executivo reconhece que o aumento do dólar afeta as atividades da empresa e informa que “no momento, estamos mantendo nosso posicionamento de preços inalterado e isso implica em uma revisão nos gastos em marketing e outras despesas, mas esse esforço acaba sendo compensado pela manutenção do ritmo de vendas e do faturamento”.

Por enquanto, o discurso dos executivos ainda aponta cautela e as montadoras reajustam suas operações para não repassar os aumentos ao consumidor. Sem dúvida uma notícia muito boa, mas que não foge de uma realidade: os preços ainda estão na mão do câmbio – cada vez mais – flutuante.

César Tizo

Imagens divulgação

(Terra Online)

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